terça-feira, 7 de agosto de 2012

Estrelas


Vem o sol e a noite aquece
E tudo o que era verso vira prece.

Porque sou lua
Em noite de luar,
Em que o ser só faz sentido
Se o sol primeiro a encontrar.

Assim voo sem ter asas
E me sinto mais do que eu:
Numa mão tenho o Universo
E noutra um verso meu.

O olhar prolonga a alma
E até já vejo com a mão,
Pois são menos as estrelas no céu
Que as que sinto no coração.

Mareando entre horizontes,
Sorri-me a imensidão.
Que o caminho certo pro homem
É ir onde os sonhos vão.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ser

Quis ser homem,
De levantar montes,
Cercar os céus
E das pedras fazer fontes.

Quis ser monte,
De ser mais que homem,
De tocar os céus
E fazer das fontes viagem.

Quis ser os céus,
Pra do alto ver os montes,
Inspirar o homem
E dar destino às fontes.

Quis ser fonte,
De ir mais além que o monte,
Ser caminho para o homem
E ver o que o céu não vê e o fundo esconde.

Mas  não sou fonte, nem céu, nem monte.
Sou homem, sim,
Não pelo que nasce da fonte,
Mas por tudo o que brota de mim!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Amor e Liberdade


Que guardo eu dentro de mim?
Que suspiro enclausurado desejoso de saír?
Que lembrança entristecida do que ainda está para vir?

Que aguardo eu fora de mim?
Por que vivo, por que espero?
Por que doce mar?
Que alimento tão severo?

Porque corro, sem saber se vou chegar?
Que a única certeza da vida
É o que fiz e vou lembrar?

Porque o luar traz nova noite
E o sol traz novo dia.
Porque eu hoje me encontro
Onde ontem me perdia.

Porque estás, porque te vejo.
Porque acordo, como adormeço,
Ansiando por um beijo.

Oh, que doce olhar
Que apazigua,
Até o mar mais revoltado,
Até a mais profunda amargura.

Oh, o dar as mãos
Sentir-te perto,
Que aquece o coração
E faz do mundo inteiro deserto!

Oh, que saudade, que amor!
Porque amar é sentir saudade
E a saudade só existe
Quando se ama de verdade.

Porque o que eu guardo dentro de mim
É amor e é saudade.
É esperança e é dor.
É um servo em liberdade.

Porque sou servo do amor,
Mas amar é ser-se livre.
Porque se morre por amor,
Mas só a amar é que se vive.




segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Inverno


Como quem nasce para a vida, acordei eu num mundo novo. Primaveras já tinha vivido, mas nunca um inverno tão cerrado. Sentado, no aconchego da lareira, espreitava pela janela e via a chuva, o vento, uma tempestade que não havia cá dentro. Mas quis ver melhor lá para fora, e comecei a abrir, devagar. E irrompeu, batendo as portas, apagando a lareira, entrando a chuva, o vento, o frio, tornando escura a casa inteira! Que foi isto que aqui entrou, que o aconchego não dura? O que é que torna a mentira alegre na verdade mais dura? Eu não sei. Sei que o senti, sei que entrou, que o ouvi. Não sei que foi. Mas não há frio, nem chuva, nem vento, nem nuvem, que consigam derrotar a vontade qu’alma tem! E sento-me novamente, de lareira apagada, à minha volta há outra coisa que jamais será derrubada. E assim vejo uma vez mais, a porta fecha lentamente, atrás de mim está sempre um cais, nem sempre o vejo à minha frente. Respiro fundo. Fecho os olhos. Quantas memórias eu já esqueci e quantas não quis guardar. Quantas gotas terão adormecido no doce embalo das ondas do mar. A vida não é uma sucessão de coisas sonhadas, são alegras e tristezas, todas elas inesperadas. Dos que ancoraram no meu coração, quantos não foram com o mar, tanto tempo perdi olhando o horizonte, quando nem tinha de navegar. A maré, por mais que se tente, não se consegue contrariar. Há que encarar a noite com a certeza de um luar. Viver o que é, não o que foi e era, porque depois de um inverno, vem sempre uma primavera.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Demissão

Minha alma, eu demito-me!
E admito que não fui capaz de suportar
Os tempos e lugares que tu quiseste,
Os mares que me fizeste navegar.

De que vale amar intensamente
Se é mais intensa a dor,
E se os sonhos leva o vento
Que cantavam de amor.

Eis que o sonho em mim nascido
Levou a um mar que não tem fim.
Águas de sofrimento
Lembrando sempre por que vim.

Tudo vejo e desconfio
“Será real, será miragem?”
Real será o que eu senti
Pois sonhada foi esta viagem.

E em versos que sussurraste
Escrevi o que fui sentindo,
Memórias de um sonho,
De um futuro que era lindo.

Treme agora a minha voz
Uma lágrima cai, sorri.
Triste é a dor que apaga,
Feliz foi o que eu senti.

É chegado então o tempo
De deixar de ser quem sou.
A esperança inconformada
Mas que sinto que acabou.

Procuro um lugar que não conheça
Um caminho a percorrer.
Sentido para o sonho
Maneiras de não sofrer.

Se um dia aqui voltar
Por esse olhar que não é meu,
Não será intensa dor
Não será alma, serei eu.

Mas hoje parto e me despeço
Por ti quebrei meu coração.
Chega de sonhos que não conheço,
Eis a minha demissão.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Esperança

Que seria dos grandes
Se desistissem à primeira?
Seriam donos do sonho
Ou servos da cegueira?

Sem esforço
Não há fama nem glória,
Não há chama nem história.

O que existe e nos impede
Se esfuma com perseverança
E a chama só se alimenta
Se mantiver viva a esperança.